Nesta coleção selecionámos obras de diferentes áreas de estudo, fundadoras do conhecimento da paisagem portuguesa, de elevado rigor científico e de teor generalista. Sugerimos assim um conjunto de obras de autores incontornáveis no estudo da história, arquitetura, arquitetura paisagista e geografia portuguesa, como José Mattoso, Fernando Távora, Francisco Caldeira Cabral, Gonçalo Ribeiro Telles, Orlando Ribeiro e Suzanne Daveau. Sugerimos ainda obras de outras gerações de autores, também eles incontornáveis e pioneiros no outro modo de ler e interpretar a paisagem portuguesa, como Cancela d’Abreu, Henrique Pereira dos Santos, Álvaro Domingues e Duarte Belo.

Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico

"Primeira obra de síntese, publicada por Orlando Ribeiro em 1945, serviu, mais do que qualquer outro dos seus trabalhos, um propósito de divulgação, quer condensando bibliografia vasta e pouco acessível ao comum dos leitores, quer as próprias investigações, especialmente aprofundadas no que respeita à vida rural e à expressão material e moral do País. Como noutros estudos do autor, os recursos de trabalho da Geografia e da História aparecem estreitamente associados: a primeira capta a expressão de paisagens, a segunda a génese e duração dos seus elementos. A presente edição foi refundida e muito ampliada."

Ribeiro, O. (2011), Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Livraria Letra Livre, Lisboa.

Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental

"O objetivo principal foi definido no sentido de se obter uma identificação e caracterização das paisagens em Portugal Continental, de modo a apoiar a tomada de decisões nos diferentes níveis do ordenamento territorial. Assim, pretendia-se considerar, como uma abordagem tão homogénea quanto possível, todo o território continental português, analisar a paisagem nos seus vários componentes e identificar unidades. Tendo em vista a aplicação ao odenamento do território, a caracterização de cada unidade de paisagem incluiria potencialidades e problemas, uma possível avaliação, os instrumentos de ordenamento aplicáveis, e ainda, orientações para a sua futura gestão."

 

Cancela d'Abreu A., Pinto Correia T., Oliveira R. (2004), Contributos para a Identificação e Caracterizaçao da Paisagem em Portugal Continental — Volume I. Coleção Estudos 10, Lisboa.

Vida no Campo

"Vida no Campo é uma metáfora sobre a perda do Portugal Rural e um antídoto contra o mau viver pelo despovoamento e abandono, ou, noutro registo, pela profunda metamorfose que vai lavrando pelo país dos (ex)agricultores com o desaparecimento das suas práticas ancestrais, modos de vida, território e paisagens. Paisagens de lamentações..., ruínas, em muitos casos. Esta não é uma questão menor. Como a língua ou a história, a paisagem é um poderoso marcador identitário, uma casa comum. Não há paisagens para sempre. A paisagem é o registo de uma sociedade que muda e, se a mudança é tanta, tão profunda e acelerada, haverá disso sinais, para além do pouco tempo e do muito espaço para compreender ou digerir as marcas e formas como se vão atropelando mutuamente, ora relíquias ora destroços."

 

Domingues A. (2011), Vida no Campo. Dafne Editora, Porto.

Da Organização do Espaço

"O espaço é um dos maiores dons com que a natureza dotou os homens e que, por isso, eles têm o dever, na ordem moral, de organizar com harmonia, não esquecendo que, mesmo na ordem prática, ele não pode ser delapidado, até porque o espaço que ao homem é dado organizar tem os seus limites físicos, facto pouco sensível, por exemplo, na escala do objeto mas já extraordináriamente sensível, na escala da cidade ou da região. A delapidação do espaço, que poderemos classificar de pecado contra o espaço, constitui, porventura, uma das maiores ofensas que o homem pode fazer à natureza como a si próprio e da existência desta possibilidade de ação negativa, em contraste com a possibilidade de ação positiva, resulta o drama do homem organizador do espaço, drama que constitui garantia de que esta é uma das mais altas funções que o homem pode atribuir-se."

 

Távora F. (1964), Da Organização do Espaço. FAUP Publicações, Porto.

Textos escolhidos

"O homem desempenha na modelação da paisagem um papel muito importante, pode ser considerado, neste aspeto, como um autêntico criador de beleza. Toda a atividade humana tem como fim a satisfação das suas necessidades, quer espirituais, quer materiais. (...) A paisagem terá de ser considerada como um todo orgânico e biológico em que cada elemento é interdependente, influenciando e sofrendo da presença dos restantes participantes. A reciprocidade é a lei fundamental da natureza. Cada geração tem uma parcela relativamente pequena na construção duma paisagem, podendo, no entanto, ter um papel profundo na distribuição do equilíbrio geral."

 

Ribeiro Telles G. (2011), Textos escolhidos. Argumentum, Lisboa.

Os inquéritos [à fotografia e ao território] Paisagem e povoamento

"A fotografia tem um duplo eixo operativo que se desloca entre o documento e o discurso. O território tem sido um lugar de indagação e de reflexão de constituição individual e coletiva. Transversal a várias disciplinas, à fotografia de expedição à Serra da Estrela, realizada sob égide da Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1881, que contou com a colaboração de Martins Sarmento, a exposição reúne um conjunto de inquéritos ao território em que a fotografia (e em alguns casos o filme) assume particular relevância. O território tem sido um lugar de indagação e de reflexão, de constituição individual e coletiva. Transversal a várias disciplinas, à fotografia tem cabido um papel central nessa tarefa de mapeamento."

 

Faria N. (2016), Os inquéritos [à fotografia e ao território] Paisagem e Povoamento. Sistema Solar (Documenta), Maia.

Fundamentos da Arquitetura Paisagista

"A compreensão da paisagem é indispensável para nela se poder actuar, e nessa compreensão há que entender o relacionamento entre os diferentes que a compõem e o seu comportamento. O funcionamento global da paisagem, em cada momento, traduz-se sempre pela procura dum equilíbrio dinâmico e duma estabilidade temporal. A acção do homem poderá então determinar um caminho mais consentâneo com os os seus interesses no sentido da diversidade biológica e dum maior potencial genético e de vida."

 

Caldeira Cabral F., Ribeiro Teles G. (1999), A árvore em Portugal. Assírio e Alvim, Lisboa.

A Árvore em Portugal

"As funções da árvore, mata e sebe viva na paisagem, considerando tanto os espaços rurais e naturais como os espaços urbanos e industriais, ou ocupados por infra-estruturas, são as de garantir a presença da vida silvestre, pormover a mais conveniente circulação da água e do ar, manter o equilíbrio dos ecossistemas, assegurar a fertilidade dos campos, contrabalançar com a usa presença, o artificialismo do meio urbano que tanto afeta a saúde psicossomática das populações, e ainda a de valorizar a escala e a porção dos volumes edificados. (...) Há que pensar o ordenamento do território e a paisagem de uma forma mais global e integrada, que corresponderá uma revalorização da árvore e das formas em que surge na paisagem, tanto no espaço rural como no urbano."

 

Caldeira Cabral F., Ribeiro Teles G. (1999), A árvore em Portugal. Assírio e Alvim, Lisboa.

Portugal, O Sabor da Terra

"Em termos de «identidade», nada é simples. Vamos abandonar o nosso território? Vamos esquecer a terra? É nela que nos apoiamos, dela que nos alimentamos, ela que configura a nosso espaço, ela que condiciona as nossas comunicações físcicas. Nela moraram os nossos antepassados. Marcados pelo território, transmitiram-nos as estruturas sociais com que nos organizamos, as técnicas agrícolas que em parte a dominam, e tudo o mais que foi moldando as nossas comunidades até hoje. O território é o elemento permanente da identidade. Por isso acentuados a presença da terra e procurámos, por meio da fotografia de paisagens em monumentos, representamos sinais de permanência ou da longa duração."

 

Mattoso J., Daveau S., Belo D. (2011), Portugal, O Sabor da Terra. Círculo de Leitores, Lisboa.

"Em termos de «identidade», nada é simples. Vamos abandonar o nosso território? Vamos esquecer a terra? É nela que nos apoiamos, dela que nos alimentamos, ela que configura a nosso espaço, ela que condiciona as nossas comunicações físcicas. Nela moraram os nossos antepassados. Marcados pelo território, transmitiram-nos as estruturas sociais com que nos organizamos, as técnicas agrícolas que em parte a dominam, e tudo o mais que foi moldando as nossas comunidades até hoje. O território é o elemento permanente da identidade. Por isso acentuados a presença da terra e procurámos, por meio da fotografia de paisagens em monumentos, representamos sinais de permanência ou da longa duração." Mattoso J., Daveau S., Belo D. (2011), Portugal, O Sabor da Terra. Círculo de Leitores, Lisboa.

Do Tempo e da Paisagem

"Nas nossas condições naturais de geologia e clima consequentemente de escassez de solo agrícola e com secura estival, compreender o papel modelador do regadio, que o mesmo é dizer, do uso de plantas que compensem o esforço associado, é essencial para a compreensão da forma como evoluem as paisagens de Portugal. (...) Daqui decorre a aceleração da simplificação das paisagens e a sua homogeneização, com consequências que se dicutirão mais adiante. (...) Para apreciar a paisagem, ou mesmo para a pintar, não é necessário conhecê-la tecnicamente. Mas fiz apelo a toda a capacidade técnica de que fui capaz para escrever sobre paisagem , isto é, sobre a síntese que resulta da forma como o homem se relaciona com a natureza ao longo do tempo."

 

Pereira dos Santos, H. (2010), Do Tempo e da Paisagem. Princípia, Lisboa.

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