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Paisagens Transgénicas

A exposição fotografia de Álvaro Domingues revela-nos o seu olhar de geógrafo, de um observador atento à face visível da transformação dos territórios, que nos fala do que somos e dos espaços que habitamos. Paisagens Transgénicas interroga o sentido da paisagem enquanto código de reconhecimento do território, propondo a transferência do conceito biológico de organismo geneticamente modificado, expondo assim a natureza compósita dos elementos de que a paisagem se faz, as suas diferentes origens, linhagens, o modo como se associam em corpos distintos, instáveis, cruzados. Deslocada da ordem "natural" das coisas, a paisagem transforma-se num dispositivo estético e político que interroga a mudança e também as inquietações de quem olha e atribui sentidos vários e dissonantes sobre o modo como vemos o mundo.
Minando as taxonomias conhecidas – o rural e o urbano, o local e o global, o natural e o artificial, entre outras – Paisagens Transgénicas desenvolve-se sob os signos da deambulação, da exploração e do encontro multissensorial com esses espaços em devir que são os nossos. Reminiscente dessa surpreendente enciclopédia chinesa descrita por Jorge Luís Borges como dividindo os animais em “a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) et caetera, m) que acabam de quebrar a bilha, n) que de longe parecem moscas” [1] , Paisagens Transgénicas desafia as nossas expetativas de leitura e compreensão dos lugares do real e das suas imagens. Estas paisagens instáveis, que agregam múltiplos estratos e combinam elementos oriundos de organismos conceptualmente diferentes, espelham um território moldado por múltiplas contradições, atravessado pelo ímpeto tecnológico, onde se inscrevem as forças agonísticas do debate social.

Este projeto, em contínuo desenvolvimento há 16 anos, é agora apresentado pelo Museu da Paisagem e pela Ci.CLO nesta exposição online, numa exposição expandida em dois espaços da cidade do Porto, nos Paços do Concelho (14.05 - 27.06.2021) e no Triplex (14.05 - 13.06.2021), integradas no programa da Bienal’21 Fotografia do Porto, e num livro que reúne o conjunto de imagens e textos selecionados.

[1] Borges, J. L. (1999). John Wilkins' Analytical Language. In Eliot Weinberger (Ed.), Selected non-fictions: Jorge Luis Borges (pp. 229-232). Penguin Books.



Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Para além das suas funções de docente e investigador do Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da FAUP, publica com regularidade sobre temáticas relacionadas com a geografia urbana, o urbanismo e a paisagem.
Ficha técnica:

Exposição "Paisagens Transgénicas"
Álvaro Domingues

Curadoria:
Ci.CLO
Museu da Paisagem

João Abreu
Margarida Carvalho
Maria João Centeno
Virgílio Ferreira

Entrevista a Álvaro Domingues:
Francisco Sena Santos

Captação Áudio:
Nuno Portugal

Edição Áudio:
Francisco Almeida

Programação:
Nuno Palma

Design Gráfico:
Mariana do Vale

Fotografia final da exposição:
Rita Serra e Silva



Exposição