Apresentação

A exposição O que há neste lugar? apresenta-se como um guia de exploração da paisagem que pretende cultivar a literacia e a cidadania paisagística nos públicos mais jovens, contribuindo para o desenvolvimento de atitudes de curiosidade, encanto, cuidado e responsabilidade pela paisagem. Partindo de breves textos, da autoria de Maria Manuel Pedrosa, acompanhados pelas subtis ilustrações de Joana Estrela, a exposição propõe um conjunto de instruções (“prepara-te”, “posiciona-te”, “abre os sentidos”), interrogações e reflexões dirigidas aos exploradores de lugares, que são desafiados a desenrolar o fio que continuamente tece a paisagem à perceção. Inserida numa abordagem transmedia, que desenvolve um universo criativo construído a partir de várias narrativas em diferentes suportes, esta exposição digital relaciona-se com o livro O que há neste lugar? Guia de exploração da paisagem, igualmente da autoria de Maria Manuel Pedrosa e Joana Estrela, editado pelo Museu da Paisagem, o qual dá ainda o mote a algumas propostas de interação com a paisagem no serviço educativo do museu. Deste modo, apela-se a uma experiência participativa por parte do público, incentivando-o a aprofundar a sua exploração de paisagens numa viagem imersiva e multissensorial através de vários media.

 

 

 

Maria Manuel Pedrosa, estudou Relações Internacionais no ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (Lisboa, 1992). Mergulhou na área da consultoria e comunicação para a sustentabilidade, desenvolvendo conteúdos para projetos em áreas tão transversais como energia, água, reciclagem, alimentação, literacia jurídica ou valorização da ciência. Nesse âmbito, fez um mestrado sobre comunicação e responsabilidade social das empresas na Steinbeis-Hochschule de Berlim (2014).

Escreveu os livros Cá Dentro, um guia para descobrir o mundo do cérebro em co-autoria com Isabel Minhós Martins (Planeta Tangerina, 2017); O que há neste lugar? (Museu da Paisagem, 2019); Ler a Paisagem: Território Tejo, em co-autoria com João Gomes de Abreu e Matilde Delgado dos Reis (Museu da Paisagem, 2019).

 

Joana Estrela, estudou Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes do Porto (2012). Passou por Budapeste e Vilnius, e voltou ao Porto, onde trabalha em ilustração e banda desenhada. Vencedora do I Prémio Internacional de Serpa para Álbum Ilustrado (2015), Prémio para Melhor Ilustração de Livro Infantil (Autor Português) na Amadora BD (2016), Menção honrosa no Prémio Nacional de Ilustração (2018). Da sua obra destacam-se: Mana (Planeta Tangerina, 2016), Rainha do Norte (Planeta Tangerina, 2017), Aqui é um bom lugar (Planeta Tangerina, 2019), O que há neste lugar? (Museu da Paisagem, 2019).

O que há neste lugar?

A paisagem é uma construção de todos, resulta de tudo o que fazemos e da maneira como todos nos relacionamos. E não estamos a falar só dos seres humanos, mas de todos os elementos da natureza. Sim, não nos podemos esquecer que também somos natureza, tal como todos os outros animais, as plantas, rochas, água, luz e ar.

Acontece que todos nós estamos ligados. Imaginemos que todas as coisas tinham um fio a ligá-las e é esse fio que as mantém em equilíbrio. Tudo o que fazemos interfere nesse equilíbrio. Se cortarmos um fio, se dermos um nó ou, simplesmente, se esticarmos o fio, tudo se altera. Por isso é tão importante conhecermos melhor a paisagem para sabermos cuidar dela.

Um bom explorador de paisagens consegue ver estas ligações. Ainda não as estás a ver? Fica alerta: observa, escuta, sente. O truque é encontrar uma ponta do fio, depois é só seguir. Vem. A paisagem precisa de ti.

Prepara-te

Tudo começa com curiosidade: o que está ali?

O principal equipamento de um bom observador de paisagens é a cabeça e o corpo em modo de exploração. A cabeça com vontade de conhecer e de descobrir com todos os sentidos em alerta máximo. E o corpo pronto para o que der e vier.

Os sentidos são a tua porta para o mundo. Para percecionares uma paisagem não basta vê-la, também a ouves (um pássaro, a badalada de um sino), cheiras (a terra molhada) e sentes (o vento no cimo da encosta). Por isso, coloca todos os teus órgãos sensoriais em sentido (podes mesmo ordenar-lhes em pensamento, como quem comanda uma tropa: “Sentidos, alerta! O teu nome, alerta!”).

“Que som chega daquele monte?”, “Vamos provar este doce regional?”... Quem tem uma mente aberta parte em vantagem e tem mais probabilidades de descobrir coisas novas ou que estão fora do alcance do olhar comum.

Sem pressa ficas mais atento. Faz paragens, aprecia, repara nos pormenores e recolhe elementos. Quando nos demoramos num lugar, aumentamos a possibilidade de explorar e conhecer melhor a paisagem e todos os seus elementos.

Posiciona-te

Os limites de uma paisagem são o teu corpo.

Se te perguntarem por uma paisagem que tenhas apreciado, provavelmente lembrar-te-ás de um passeio longe de casa até uma cascata a jorrar de um penhasco ou de um pôr do sol na linha do horizonte. Escolheste um ponto de observação ao longe para poderes ver tudo e tiraste fotografias...

Se é assim que imaginas, fica a saber que esta é a ideia habitual que se tem de apreciar uma paisagem, uma espécie de postal panorâmico. No entanto, a experiência de quem estuda as paisagens tem demonstrado que há mais mundo para lá desta ideia.

Podes não te aperceber, mas a natureza é a tua primeira casa. É na natureza que começa tudo e este é um excelente ponto de partida para te tornares um explorador da paisagem. Funcionando como uma teia infinita, na natureza tudo está interligado e tudo funciona em cadeia. Nós fazemos parte deste fio que se desenrola, embora às vezes nos possamos esquecer...

Abre os sentidos

Prontos para o mundo?

Aonde nos levam os nossos sentidos? Levam-nos para o mundo à nossa volta, para o conseguirmos registar e interpretar. Mas nem sempre nos apercebemos do trabalho de cada órgão sensorial... Um bom explorador de paisagens convoca cada um para exercícios de descodificação e fica atento. Sai para a rua neste modo multissensorial e conseguirás ter uma experiência mais completa da paisagem.

Quando vemos uma paisagem, podemos não tomar consciência de todas as outras sensações que fazem parte do “retrato”. Repara: um parque relvado numa tarde de verão também dá a sentir o cheiro da relva cortada, os gritos dos amigos a correrem, o calor que obriga a procurar uma sombra e o sabor agridoce de umas amoras que comes.

Tudo isto se funde na paisagem que estás a observar. Concordas?

A paisagem acontece contigo

A paisagem só se torna paisagem quando a apreciamos.
Quer isto dizer que uma paisagem é a impressão que cada um de nós tem de um espaço. Portanto, a paisagem acontece através de ti e de todas as outras pessoas que a apreciam.

Muitos lugares despertam o mesmo tipo de sentimento nas pessoas. É fácil perceberes isso se procurares saber as opiniões que existem, por exemplo, sobre as planícies do Alentejo. As paisagens são também o resultado da identidade coletiva da comunidade que, em conjunto e ao longo do tempo, as construiu.

Atravessar a Paisagem

No momento em que sais lá para fora começas a atravessar a paisagem.
Depois, conforme te vais deslocando, os tipos de paisagens podem mudar, cada qual com os seus elementos, cada um encadeando no outro, continuamente, formando um sistema que se desenrola sem fim (os montes dão lugar a uma planície que dá lugar a uma cidade...).

Porque pertences à paisagem, também tu fazes parte deste movimento.

Percorremos o espaço diariamente e fazemo-lo por muitos motivos.
O que interessa, enquanto explorador da paisagem, é saberes que esses motivos nos levam a fazer um caminho de maneiras muito distintas. Um exemplo: fazer um caminho a correr, atrasado para um encontro, é certamente diferente de descobrir um trilho que te vai levar a uma gruta.

Repara nas diferenças e de que modo isso influencia o que vamos viver.

Quando o tempo passa, o que muda?

Nada é estático. Cada segundo passa por tudo.

Tal como tu, a paisagem nunca permanece igual. A cada minuto que passa, vives, aprendes, constróis-te... porque és um ser vivo. Com a paisagem passa-se o mesmo. A cada minuto altera-se (quanto mais seres vivos tiver, mais se altera!). Mas, se a cada instante essa mudança parece impercetível, com o tempo torna-se visível: os arbustos despenteiam-se, a pintura de um prédio descasca...

Às vezes, num intervalo de tempo muito curto, a paisagem altera-se drasticamente devido às forças da natureza. Cheias torrenciais destroem margens, derrubam árvores ou danificam casas. A erupção de um vulcão também modifica a paisagem num abrir e fechar de olhos, podendo mesmo fazer desaparecer aldeias ou cidades (já deves ter ouvido falar de Pompeia, a cidade italiana que há 2500 anos desapareceu por baixo das cinzas do Vesúvio).

Também acontece que a paisagem se altera num instante porque o ser humano interveio nela, erguendo turbinas eólicas nos cumes dos montes ou cobrindo uma encosta de prédios.

 

 

Nós transformamos a paisagem

O que estava aqui antes?

Já aprendeste que a paisagem não é estática e que vai mudando ao longo dos dias e dos anos (milhares e milhões, na verdade). Os próprios elementos da paisagem alteram-se e nós, que ocupamos o espaço, contribuímos para os transformar. Desde que nascemos, interagimos sempre com a paisagem. Repara: de onde vêm os alimentos que comemos, os materiais das casas ou a energia usada nos transportes?

As transformações que o ser humano foi introduzindo na paisagem foram feitas com o melhor que se sabia em cada época. Muitas vezes ignorando o mal que se podia estar a causar. Outras vezes pensando que progredir implicava perder paisagens naturais, sem pensar no futuro a longo prazo. Mas hoje, graças ao trabalho dos cientistas, sabemos que todas as paisagens comunicam e criam um equilíbrio entre si e que todas são fundamentais para a nossa sobrevivência na Terra.

A paisagem também nos transforma

A tua identidade tem muitos lugares.

Será que também nós somos transformados pela paisagem que habitamos e percorremos? É igual crescer na cidade, na montanha ou ao pé do mar? Ou ter raízes num país da Europa ou da América Latina, com uma história, cultura e comida diferentes? Se já conheceste pessoas que moram noutras paragens, deves ter-te apercebido de que há diferenças. Vamos explorá-las.

Se as paisagens não fossem tão importantes para a nossa identidade e bem-estar não nos importaríamos de viver em qualquer parte do mundo. Talvez nem precisássemos de pertencer a um país ou de ter uma nacionalidade. Será? Não parece ser bem assim.

Por alguma razão, muitas pessoas que vivem em lugares diferentes daqueles onde cresceram, sentem saudades “da sua terra”. Ou saudades de outros lugares onde viveram por uns tempos e onde aconteceram coisas importantes para si. Podem lembrar-se da família, da natureza, de sabores ou de um local especial onde iam com amigos. Coisas únicas daquela paisagem que as marcaram. Os tais lugares que se tornam uma parte de nós e que influenciam a nossa maneira de ser.

E a ti, o que te faz sentir em casa?

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