Invisível

 

Esta paisagem não vem ter connosco, somos nós que temos de ir ao seu encontro, por isso quem não a conhece não pára aqui.

Num primeiro momento, nada de particular encontramos. Mas como em todas as paisagens, também esta requer que lhe dediquemos tempo e que estejamos disponíveis para a descoberta, dois bens quase sempre escassos: sem tempo, somam-se apenas instantes, o pensamento fragmenta-se, as imagens são imprecisas ou incompletas; com tempo, podemos encontrar o fio que liga os instantes, aprofundar o raciocínio e registar o mundo em imagens de alta resolução.

Tudo se torna mais visível. Até nós próprios. A Ponte de Sume pede este tempo para se tornar visível. Não só aos olhos, mas aos restantes sentidos.

Junto a uma ponte entre duas curvas paramos. Da ponte observa-se um vale de penedos graníticos, alguns com mais de dez metros de envergadura. Não passava aqui a Ribeira de Sor?

É preciso caminhar cerca de cem metros por um trilho a meia encosta do vale para procurar algumas respostas. Quem quiser que ignore, por agora, a informação reveladora no painel que vai encontrar do lado direito e, em vez disso, aguce os sentidos para prestar atenção ao invisível e às pistas que nos possa dar. Para não saber tudo de uma só vez.

Dá-se a ouvir o som da água ao longo de todo o ano, um murmurejar em pleno Verão, um troar na estação da chuva. Porém, não há leito, muito menos ribeira. Só imponentes blocos graníticos. Sumiu... Daí, ser chamada de “Sume”.

Caminhando mais umas dezenas de metros, sempre a acompanhar o vale da ribeira fantasma, vemos finalmente o que corresponde ao som: ao vivo, a ribeira corre, larga e mansa.

Avançamos várias hipóteses para este enigma. Estamos mais perto de descobrir como tudo aconteceu. Regressamos ao painel. Agora tornou-se visível.

Alerta spoiler: se quiser fazer desta viagem uma experiência de descoberta, não leia o texto da página seguinte. Leve o guia e leia depois.

À superfície

 

A paisagem é um conjunto de sistemas que funcionam entre si: quando se intervém num, influencia-se o outro. Quando estes sistemas são desconhecidos, fica-se à superfície do conhecimento da paisagem, correndo o risco de a maltratar quando a ocupamos.

Saber como evoluiu a paisagem que envolve a Ponte de Sume, contribui para a valorizar: no momento em que a entendemos, rendemo-nos perante a magnitude da transformação natural.

Há cerca de 20 mil anos, grandes blocos graníticos colapsaram e depositaram-se encosta abaixo no leito da ribeira, criando uma barreira ao seu curso normal. Como a água encontra sempre o seu caminho, escavou, aos poucos, um novo leito, debaixo de terra, sob a forma de cavernas graníticas. Ao longo de 250 metros, a ribeira viaja, assim, em várias galerias subterrâneas, para regressar, à superfície, ao leito ancestral.