Domínio

 

Na Serra de Montejunto (666 metros), o ponto mais alto da Estremadura, escolhemos a Penha do Meio do Dia, onde o marco geodésico aponta menos 100 metros, para ler as diferentes camadas e perspetivas — ora opostas, ora complementares — que a paisagem oferece.

Ao longe, a planície fragmentada aparece-nos em forma de mapa aéreo, dando-nos uma panorâmica do domínio que exercemos sobre o território, neste caso uma ocupação às parcelas: zonas agrícolas, florestais, pequenas povoações, armazéns e unidades fabris, baldios. Quem fechar os olhos e der a vez aos ouvidos, confirma o perfil desta paisagem: ao longe toca um sino, ladram cães e roncam tratores e motosserras.

Se nos concentrarmos na paisagem aos nossos pés, muda a equação: sai a mão humana e entra a mãe natureza (pedimos, para este efeito, que se ignore a torre de vigia, a antena e o marco geodésico). Aqui mandam os seus elementos. Domina o vento que preenche os ouvidos e toma conta do cabelo. De todo o corpo. Também toma conta da vegetação que não consegue aspirar a elevar-se do solo. Nesta condição, predominam matos de carrasco e arbustos aromáticos, como o alecrim, considerados espécies autóctones. Domina o solo desta serra: impressionantes maciços calcários que nos atiram para o início da formação dos continentes há 193 milhões de anos, quando o litoral português se separou do continente americano e africano.

Quem de novo fechar os olhos e der a vez às mãos sente o resultado do processo erosivo e abrasivo a que são sujeitas as formações calcárias. Esta aspereza que tocamos é da responsabilidade do longo tempo geológico que dá a este tipo de serras a sua típica forma arredondada. Estes maciços estão cá desde sempre. São os alicerces da nossa casa. O que nos leva a perguntar:

Que casa temos estado a construir?

Antes de subir à Penha do Meio Dia ainda não tínhamos estas duas paisagens dentro de nós. Agora que as levamos connosco, enquanto descemos, o que muda?

Abrigo

 

O modo como ocupamos a paisagem tem-nos levado a ignorar os ecossistemas que a sustentam. Também aqui, na região que envolve a Serra de Montejunto,  a transformação do território tornou-se muito intensa  e nem sempre se teve em consideração os importantes habitats naturais que aqui existem.

Por esta razão, a serra tornou-se um refúgio para muitas espécies de animais: aqui abrigam-se mamíferos de médio porte, como  a raposa e o texugo, alguns répteis e mais de 70 aves  nidificantes (das quais dez se encontram ameaçadas). Por esta razão, as associações ambientalistas lutam para que a Serra de Montejunto seja alvo de uma estratégia de proteção ambiental mais estruturada e efetiva.