Conquista

 

Inserida no Parque Natural da Arrábida, a Serra do Risco tem a arriba mais alta da costa continental portuguesa e, ao mesmo tempo, a escarpa litoral calcária mais elevada da Europa. Apetece imitar a serra: parar, abruptamente, em frente ao oceano, a mais de 300 metros de altura. Para isso, aceitamos o desafio de caminhar 3,5 quilómetros até à sua crista. De resto, esta é a única forma de lá chegar.

Depois de um percurso de 1,5 quilómetros em estrada de terra batida, o caminho passa a trilho, com subidas pedregosas e denso carrascal. Na maior parte das vezes, é preciso parar e interpretar os sinais do que poderá ser o percurso correto: diferenças no tom das pedras calcárias, algum polimento discreto na sua superfície ou uma fila de arbustos com menor ramagem. Sempre que se abre uma clareira, o ponto mais alto da serra — o Píncaro, com 380 metros — serve de orientação.

Chegados à cumeada da Serra do Risco, o Atlântico estende-se vertiginoso no infinito, terminando apenas para os nossos olhos. Parece que imergimos nesse lençol aquático e só a existência de alguma embarcação permite recuperar a noção do espaço.

Olhando na direção da terra toma-se consciência da distância percorrida. Um caminho passa a sê-lo depois de alguém o ter feito. Mas se esse caminho for difícil, mesmo que tenha sido percorrido por muitos outros antes de nós, para nós é novo, porque o conquistamos, literalmente.

Começa no nosso corpo e vai-se tornando nosso, a cada fôlego e passo, a cada momento que paramos. Por isso, quando alcançamos a crista da serra é como se nos ficasse a dever isso. Ser nossa.

Limite

 

As águas que descem sobre a Serra do Risco percorrem um de dois caminhos: ou escorrem do lado norte da encosta e vêm juntar-se às ribeiras tributárias do rio Tejo ou roçam a escarpa a sul e caem no oceano atlântico. Devido à arriba calcária, poderíamos desenhar literalmente um risco na crista da serra, a partir do qual se traça o destino das águas. A este risco — linha de festo — corresponde o limite mais a sul da bacia hidrográfica do Tejo aqui na Arrábida e será um dos mais bem delineados de toda a bacia.

É certo que os limites não existem na paisagem, cada uma entronca na outra numa teia infinita, mas desenhamo-los, por força de um método, para a estudarmos melhor.