Ancestral

 

Caminhamos em redor da Praça de Touros de Santarém. Um edifício cuja fachada nos revela uma superfície eternamente curva, que evoca um espaço de encontro.

Se uma paisagem não se limita ao que nos é tangível, o edifício que observamos conta-nos um pouco da paisagem cultural à qual pertencemos.

Recuando alguns milénios, o conceito arquitetónico do círculo que deu origem à praça de touros foi sofrendo alterações. O teatro grego ou coliseu romano, o teatro barroco francês, os circos contemporâneos e os atuais estádios de futebol são exemplos de actualizações do círculo edificado.

Em retrospectiva histórica, a evolução da praça, sempre teve como pano de fundo culturas mediterrânicas e as respetivas paisagens. Às praças de touros dispersas pelo território está também associada a paisagem do montado e da lezíria.

O sistema ecológico do montado, tão próprio da região do Tejo, consiste numa adequada intervenção humana sobre planície, de forma a potenciar as culturas florestais e animais e a tornar mais sustentável a obtenção de recursos. Entre eles encontra-se a ganadaria do touro bravo, protagonista das touradas. Este agrosistema diverso apresenta espécies de árvores autóctones, e portanto, adaptadas ao clima, de um inestimável valor ecológico. Já a planura da lezíria do Ribatejo constitui uma zona lisa e consequentemente irrigada, cujos solos férteis são suportes para a biodiversidade endémica (da própria da região). Estas são, assim, as paisagens sustentáveis que oferecem condições adequadas à manutenção o touro bravo, a par de outras espécies. 

Também designada como Monumental Celestino Graça, a Praça de Touros de Santarém, resulta, pois, de uma herança cultural tecida ao longo de milhares de anos. A natureza utilitária de espaços a este idênticos tem sido linear: a distração das exigências do quotidiano e o domínio da razão humana sobre a força do animal.

Sabendo que a paisagem é dinâmica, surge-nos a questão sobre o sentido em que esta cultura deverá evoluir ou sofrer transformação.