Ponte João Joaquim Isidro dos Reis
Além das pontes
As estradas que hoje cosem as nossas planícies permitem que nos desloquemos de forma fugaz até ao destino pretendido. A velocidade imposta pelo alcatrão faz-nos percecionar menores distâncias e o país parece reduzir de tamanho. Esta vantagem temporal em nada nos convida a conhecermos a nossa geografia, decorando o nome dos vales e dos rios que os cavam.
Sobrevoar o caudal do Tejo através de um viaduto é hoje uma certeza mas, em tempos idos, a travessia do rio era uma improbabilidade. Muitas vezes, pelas estradas deslizamos junto ao curso do Tejo sem disso nos apercebermos, tal é a complexidade de informação que a paisagem foi adquirindo ao longo dos tempos.
Muito antes de se terem construído pontes ferroviárias e rodoviárias , eram os rios que serviam de caminho ou de via de comunicação. Mas não só.
Planificar uma rota até ao destino, implicava conhecer o trajeto dos rios e dos seus afluentes, essa infinita rede fluvial que rasgava o país, ainda antes de existirem obstáculos como barragens, paredões ou açudes. Os entraves implicados no alcance da outra margem eram de outra ordem, ditados pelo relevo, pelas correntes ou pelas cheias.
Como fiéis confidentes das orlas, os rios delimitavam os ecossistemas, os hábitos, as práticas, a informação, confinando a cultura a cada uma das margens.
Veja-se a evolução do povoamento do território no Vale do Tejo até ao início do século XV. A sul do Tejo verifica-se maior influência muçulmana nas tipologias arquitetónicas e urbanísticas, do que a norte do mesmo rio, onde predominam as construções de matriz cristã.
Está visto que a matéria e o conhecimento circulavam melhor sobre a continuidade da planície que na fluidez das águas. Era pelo leito que o progresso chegava às planícies a norte e a sul do mesmo rio.
Até ao final do século XIX, o Tejo não era mais do que uma linha de fronteira natural. Transpô-lo de forma imediata é uma recente facilidade que apenas vimos surgir nos últimos dois séculos. A construção das pontes férreas ao longo do Vale do Tejo surgiu no contexto da revolução industrial e da crescente democratização de materiais construtivos como o aço, que vingou nas estruturas viárias. Esta é prova de que o acesso aos recursos naturais é determinante na transformação da paisagem e na evolução da fixação humana.
A Ponte da Chamusca foi a oitava ponte a ser erguida sobre o leito do Rio Tejo. Ao longo dos 230 quilómetros que o Tejo percorre no nosso país, 16 pontes são as chances que temos de transpor o rio. São estas as costuras que uniformizam o desenvolvimento regional das zonas de baixa densidade do nosso país.
Para melhor percecionarmos a travessia do rio, caminhamos pelo passeio pedonal. Desta forma, poderemos experienciar uma aproximação daquela que seria uma travessia feita pelos povos que habitaram este território.