Mediterrâneo oculto

 

Os ciprestes que ladeiam a estrada que nos conduz ao lugar parecem cumprimentar quem passa. Um manto verdejante de pinheiros, oliveiras e sobreiros acompanha o caminho até ao Vale de Pegões. A sensação é de, gradualmente, nos aproximarmos de um refúgio junto ao Mediterrâneo. Este lugar oculto só se parece revelar a quem o procura conhecer. E como queremos explorá-lo, entramos por um caminho de terra, rente à base do aqueduto. O trajeto, o peso e a estatura da construção em pedra calcária não excedem a morfologia do vale, em jeito de respeito ao lugar. Não sabemos que cálculos ou desenhos foram elaborados, o certo é que existe um diálogo saudável entre a terra e o que nela pousa. Entre a natureza e a intervenção da mão humana, nenhum dos elementos se superioriza perante o outro. Livre de hierarquia, a matéria construída coopera com a terra plena.

O lugar é pontuado por cores férteis, como se a cada raiar de dia, algum aguarelista, cuidador desta paisagem, pincelasse os montes e cada árvore. É como se a cada dia fossem mantidas e avivadas as suas cores.

Água, pelo pé

 

Poderá não parecer mas o vale apenas nos revela uma fração do Aqueduto do Convento de Cristo, situado na cidade de Tomar. Foi o rei Filipe I que, em 1593, mandou erguer o aqueduto com seis quilómetros de extensão. A estrutura destinava-se a conduzir a água proveniente de quatro nascentes distintas, situadas nos arredores da cidade, até ao convento. A chuva acumulada recorda o antigo fluxo de abastecimento de água. A trinta metros de altura, seguimos o seu trajeto, pela conduta.

Junto ao canal, avançamos num caminho estreito, que oferece uma visão vertiginosa. O solo pode parecer olhar-nos de volta mas, ainda assim, continuamos elevados em corpo e em espírito. A imensidão do vale é demasiado desafiante para voltar a trás. Quando julgamos estar a chegar ao fim do troço, encontramos uma guarita, semelhante à que atravessámos no início do trajeto. São as chamadas "casas de fresco", que serviam de apoio à manutenção do aqueduto e que, agora, nos permitem descansar à sombra.

A partir do abrigo, o aqueduto continua, subterrâneo, oculto pelo monte.