Exploração

 

Por caminho de terra batida, somos levados do Arneiro, aldeia do concelho de Nisa, até à margem esquerda do Tejo, junto às Portas de Ródão, percorrendo uma região de matos baixos, azinheiras e olival esparso, com um solo de difícil proveito agrícola.

Chegados ao Conhal do Arneiro toma lugar uma paisagem insólita: uma sucessão de pilhas de pedras, umas atrás das outras, intercalam-se com mato e oliveiras (às quais alguém deu chão, precisamente, afastando as pedras).

As pilhas que aqui vemos são amontoados de grandes seixos rolados, retiradas do rio, a que se chamam conhos. Há conhos que formam montes alongados com mais de 100 metros de extensão, outros — as conheiras — que tomam um formato cónico, atingindo, por vezes, cinco metros de altura.

Este empreendimento humano colossal de 400.000 m² é o que sobra de uma das maiores indústrias romanas, a exploração mineira ou arrugiae, designação dada às minas de desmonte a céu aberto, que funcionavam através da força de injeção de água sobre os sedimentos. Crê-se que a mina neste terreno fluvial do Tejo tenha funcionado durante cerca de 70 anos, com o objetivo de extrair um dos minérios mais preciosos de sempre, o ouro. Os conhos amontoados não são mais do que as pedras maiores retiradas manualmente dos canais de lavagem dos sedimentos, que continham o ouro, e transportadas para zonas afastadas da exploração.

Só se percebe a magnitude desta paisagem singular quando se sobe ao Castelejo, um relevo artificial de 15 metros de altura, que deverá ter servido para fiscalizar os trabalhos, e que corresponde ao volume de sedimentos retirados do terreno envolvente.

Tendo em conta o volume de pedras e os anos de funcionamento da mina, calcula-se que aqui tenham trabalhado 500 homens, lavando cerca de 2 m³ de sedimentos por dia, equivalendo no final a 10.000.000 m³ de sedimentos bateados. Um total estimado de três toneladas de ouro terá passado pelas suas mãos para as mãos do Império Romano. Da exploração da força braçal de cada um dos mineiros e da privação da sua liberdade (crê-se que a maioria eram escravos) resta este gigantesco depósito de resíduos que permanece praticamente intacto passados mais de 2000 anos. Esta paisagem consegue este feito: o de nos colocar, face a face, com o espólio da exploração humana.

Retirar

 

Um dos motivos de grande transformação da paisagem é a extração de recursos naturais. À luz de cada época há recursos que são considerados mais necessários que outros, mas o que é certo é que desde sempre o ser humano retirou elementos da crosta terrestre para poder sobreviver e desenvolver-se. Alguns, como o ouro, são particularmente cobiçados pelo seu valor.

A magnitude do empreendimento mineiro montado no Conhal do Arneiro ilustra o quanto este metal era um fim que justificava a dimensão dos meios. Hoje, não seria este nível intenso de exploração qualificado de destruição da paisagem?

Por não ser habitual que uma paisagem de escombreiras seja considerada um monumento, o Conhal foi durante muito tempo local de recolha de pedra para produzir brita. De resíduo, para os romanos, os conhos passaram a matéria-prima nos nossos dias. Esta exploração terminou quando o local foi finalmente classificado como área arqueológica e geosítio do Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional.